V - CONCLUSÃO

Os fatores gerais da depressão econômica mundial, a insidiosa preparação e eclosão da 2ª Guerra Mundial, várias transformações catastróficas subseqüentes, o amadurecimento da própria consciência pública, bem como o conhecimento das correntes neo-realistas estrangeiras, determinaram esse movimento estético, cuja força se reside numa difusão que impregna escritores das mais diversas formações: é como que uma conspiração secular de silêncio que se desfaz sobre as realidades portuguesas.
Nas suas criações mais conscientes e elaboradas, esta larga corrente propõe-se vencer certo esquematismo inicial de intenção, certas imitações estreitas dos paradigmas em vista, que chegaram a traduzir-se em “brasileirismos” lingüísticos.
Desde 1940, os escritores neo-realistas vêm batalhando por uma emancipação de certa monotonia de processos e temas. Com quase todas suas personalidades ainda em evolução, seria ainda prematuro determinar, sob o ponto de vista histórico-literário, em que medida enfrentarão os sucessivos desvios tangenciais ao Realismo, que é, aliás, uma escola em crescimento contínuo e imprevisível.

FINALIZANDO:

– O romance neo-realista em Portugal baseou-se numa mundividência socialista;
– Tal como a geração de 1870, a geração de 1940 encarou o romance como arma de combate;
– O conflito que atinge as personagens é quase sempre de caráter social e econômico;
– Os excessos do início – o radicalismo, o ortodoxismo – foram aplainados e os escritores foram seguindo trilhas próprias;
– Desta forma, houve dois momentos no Neo-Realismo português:
1) O primeiro, mais radical, do qual destacamos como obras representativas: GAIBÉUS, de Alves Redol (1940); CASA NA DUNA, de Carlos de Oliveira (1943) e CASA DA MALTA, Fernando Namora (1944).
2) O segundo, em que o romancista já se liberta das convenções vigentes, sendo, portanto, o seu melhor momento, tendo como obras representativas: O HOMEM DISFARÇADO, de Fernando Namora (1957); O ANJO ANCORADO, de Cardoso Pires (1958) e RUMOR BRANCO, de Almeida Faria (1962).
- No primeiro momento, a linguagem usada é de um poema romanceado, com abuso de adjetivos e vocabulário popular, com termos regionalistas.
- No segundo momento, a linguagem é baseada em frases secas e curtas, com maior contenção vocabular.
- No início o espaço era o meio rural, que foi deslocando-se paulatinamente para o ambiente urbano.
- O esquema narrativo oscila entre o tradicional e o contemporâneo, havendo predominância do último, na segunda fase.
- O movimento neo-realista surgiu como conseqüência natural do ambiente socioeconômico de Portugal no término da 2ª Guerra Mundial, sofrendo influência de escritores estadunidenses e brasileiros.
- O Neo-Realismo se estendeu até aproximadamente o ano de 1965, legando às letras portuguesas uma plêiade de excelentes romancistas. Se eles conseguiram preencher o vazio que a morte de Eça de Queiroz deixou no Romance português, só o tempo há de dizer.