BIBLIOGRAFIA

– SACRAMENTO, Mário – Fernando Namora (Lisboa, Arcádia, 1968);
– DIONÍSIO, Mário – Prefácio, em Casa na Duna (3ª edição, Portugália, 1964);
– NAMORA, Fernanco – Prefácio, em Casa da Malta (Lisboa, Europa, América, 1965);
– BARCELA, Armando – Sobre o Neo-Realismo (Vértice, Vol. XXIII, nº 238, julho de 1963);
– MONTEIRO, Adolfo Casais – O romance: Teoria e Crítica (Rio de Janeiro, José Olímpio, 1964);
– SARAIVA, José e LOPES, Oscar – História de Literatura Portuguesa (Porto, 1962);
– MOISÉS, Massaud – A Literatura Portuguêsa (11ª edição, São Paulo, Cultrix, 1973) e A Criação Literária (4ª edição);
– CARPEAUX, Otto Maria – História da Literatura Ocidental (7° volume);
– COELHO, Nely Novaes – O Ensino da Literatura (Ed. FTD, São Paulo, 1966).

POSFÁCIO 

O escritor de hoje é uma espécie de bobo da corte, encarregado de dizer coisas heterodoxas, politicamente incorretas. Mas não se muda nada. Nós somos a cereja que está aí para enfeitar o bolo e, vá lá, tentamos enfeitá-lo da melhor maneira possível” 
(José Saramago, 1999).

A relevância de um trabalho acadêmico pode estar embasada na permanente atualidade do seu conteúdo, em desafio às inevitáveis mudanças de conceitos que ocorrem com o passar dos anos. Este livro, publicado em 1975, sobre o romance neorrealista em Portugal, elaborado pela professora Déa Márcia Simões a partir da sua tese de mestrado, é um desses trabalhos que perduram no tempo, não apenas pela perenidade da sua substância, mas também pela riqueza teórica na abordagem do tema.
      Certamente muita coisa aconteceu nas últimas cinco décadas, depois do lançamento deste livro. A arte literária talvez tenha dado mais um ou dois passos à frente na evolução da criação das suas formas artísticas. Partindo da ideia exposta no início do livro - de que “em Portugal, a geração neorrealista pretendeu preencher o vazio que a morte de Eça de Queiroz deixou no romance português. Se conseguiu ou não, só o tempo há de dizer” - qual perspectiva nos é oferecida hoje, em pleno século XXI?
José Saramago surgiu para o mundo da literatura na década de 1980, alguns anos depois, portanto, da conclusão deste livro. Teria Saramago finalmente preenchido este vazio deixado por Eça? Graças à amplitude da sua pesquisa, a autora nos apresenta esta reivindicação, ou premonição estética, suscitada pelo estudo da influência do neorrealismo na literatura de Portugal.
Há dois momentos bem marcantes na análise deste estilo de época: o primeiro, mais radical, e o segundo, já liberto de convenções, tal como, posteriormente, evoluiria a obra de Saramago, brotada no início da fonte pura do neorrealismo e depois transmutada para outras vertentes dos modernismos literários.
Os reflexos práticos da inserção do romance neorrealista na vida da sociedade é uma questão que continuará sempre polêmica. Um dos equívocos do chamado Socialismo Real do século XX foi considerar o Estado como uma entidade superior, maior até, na sua concepção filosófica e axiológica, do que a própria Vida.
Esta comparação também pode ser aplicada à Arte, ou seja, a Vida é muito maior do que a Literatura. Assim como as políticas de Estado não são suficientes para dar conta de toda a realidade social, a Literatura, por si só, também não é capaz de revolucionar o mundo. Só o próprio mundo, ou a própria Vida, pode se autotransformar.
A finalidade da Arte, porém, não deve ficar restrita apenas a “produzir-nos esta emoção tão particular, tão misteriosa e talvez tão complexa: a emoção estética" (José Régio, Manifesto de 1928, Revista Presença). 
Representando um novo estilo nas letras portuguesas, os escritores neorrealistas não pretenderam entrar para história da Literatura como mera obra de arte, mas quiseram representar, antes de tudo, um documentário humano vivo.