A denominação “Neo-Realismo” nos sugere, de imediato,
a volta da moda realista.
Em se tratando de Literatura, claro está que não pode
haver “retorno” de um movimento literário. Esses movimentos nem retornam, nem
admitem fronteiras. O que a princípio pode aparentar um retorno é, na verdade,
uma transformação enriquecida.
O rótulo “Realismo” com que foi batizado o movimento
que se segue ao Romantismo, se deve à acentuada tendência para a observação
direta da realidade, através de um registro objetivo e impessoal, sem as
idealizações comuns às artes de até então.
O Realismo levou o gênero romance para o campo da
observação metódica e objetiva, contaminando-o pela busca apaixonada dos
fenômenos vividos e analisáveis. A vida humana tornou-se documento de
pormenorizada pesquisa diante da qual o escritor procurava manter-se frio e
neutro para conseguir a objetividade fotográfica, o que era a atitude estética
exigida, mas nem sempre conseguida.
O escritor denunciará uma sociedade corrompida e falsa.
Eça de Queiroz, por exemplo, denunciou a falsidade do relacionamento social do
ponto de vista ético-amoroso.
Os neo-realistas denunciam a falsidade do
funcionamento social, numa sociedade corrompida e falsa do “pós-guerra”.
Há também no Neo-Realismo a tendência para a
observação direta da realidade, numa tentativa de estruturação cinematográfica
do romance. Mas o registro do autor não será impessoal.
O herói realista vai se multiplicar por cem, por mil,
e se tornar quase anônimo no Neo-Realismo, porque as personagens centrais se
confundem no drama coletivo de todo um povo desfavorecido e humilde.
Em Portugal, a geração
neo-realista pretendeu preencher o vazio que a morte de Eça de Queiroz deixou
no romance português. Se conseguiu ou não, só o tempo há de dizer.